Rodrigo Paz é eleito presidente da Bolívia e promete “abrir o país para o mundo” após duas décadas de hegemonia do MAS
Em meio a um cenário de instabilidade econômica, desconfiança institucional e esgotamento do modelo político vigente, a Bolívia vive um novo capítulo em sua história. O senador de centro-direita Rodrigo Paz foi eleito presidente do país neste domingo (19), ao vencer o segundo turno das eleições com 54,5% dos votos válidos, superando o ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga.
A vitória de Paz encerra um ciclo de quase 20 anos de governos liderados pelo Movimento ao Socialismo (MAS), partido fundado por Evo Morales, que moldou a política boliviana nas últimas duas décadas com forte presença estatal, programas de redistribuição de renda e alinhamento com potências como Rússia e China.
Apesar do resultado expressivo nas urnas, o partido de Paz — o Partido Democrata Cristão (PDC) — não conquistou maioria no Legislativo, o que o obrigará a negociar alianças e compor uma base multipartidária para garantir governabilidade. Analistas apontam que o novo governo dependerá de habilidade política para conciliar diferentes forças, especialmente diante de um Congresso ainda dominado por setores ligados ao MAS.
Durante o discurso da vitória, em La Paz, Rodrigo Paz prometeu uma “Bolívia aberta para o mundo” e indicou uma reorientação da política externa, com aproximação dos Estados Unidos e fortalecimento de relações comerciais regionais. Ele defendeu reformas econômicas graduais, incentivo ao setor privado e manutenção dos programas sociais, numa tentativa de equilibrar o anseio por mudança com a preservação de conquistas sociais do período anterior.
Filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora (que governou o país entre 1989 e 1993), Rodrigo herda um legado político ambíguo, marcado tanto por experiência quanto por controvérsias. Apresentando-se como símbolo de renovação e moderação, ele conseguiu unir parte do eleitorado urbano e jovem, impulsionado também pela popularidade de seu vice, Edman Lara, ex-policial e influenciador nas redes sociais.
Paz assumirá o cargo em 8 de novembro, em meio a desafios complexos: conter o avanço da inflação, recuperar a confiança de investidores, restaurar a estabilidade institucional e, sobretudo, reconciliar um país profundamente polarizado. Entre promessas de diálogo e pressão das ruas, o novo presidente terá de provar se conseguirá transformar o discurso de mudança em um novo pacto social capaz de reposicionar a Bolívia no cenário latino-americano.