Mato Grosso do Sul se destaca nacionalmente pelo alto número de notificações de violência interpessoal contra idosos, ou seja, casos que acontecem dentro do ambiente familiar, entre amigos ou pessoas próximas. Essas informações fazem parte do Atlas da Violência 2025, divulgado nesta segunda-feira (12) pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em parceria com o FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública).
Logo no começo, o estudo lembra a definição da OMS (Organização Mundial da Saúde) sobre esse tipo de violência: “um ato único ou repetido, ou a falta de uma ação adequada, que ocorre no âmbito de qualquer relacionamento onde haja uma expectativa de confiança, causando mal ou aflição a uma pessoa mais velha.”
O documento explica que a violência interpessoal inclui agressões físicas, psicológicas, tortura, violência sexual, negligência, entre outras formas. Em todo o Brasil, em 2023, foram registradas 28.704 notificações desse tipo de violência.
Ao analisar a série histórica de 2013 a 2023, percebe-se um aumento de 142,2% nas notificações no país. Mato Grosso do Sul, por sua vez, apresentou a maior taxa entre as 27 unidades federativas em 2023, passando de 260,7 casos por 100 mil habitantes em 2013 para 312,9 no ano passado. Entre 2022 e 2023, essa variação foi de impressionantes 60,5%.
O Estado também está entre os que apresentam as maiores taxas de lesões autoprovocadas notificadas entre idosos. Em 2023, foram 25,9 casos por 100 mil habitantes, colocando MS na sétima posição no ranking nacional, atrás de Ceará (114,3), Roraima (62,2), Goiás (60,9), Tocantins (30,7), Santa Catarina (30,6) e Distrito Federal (29,6).
Quando os dados são analisados por raça, o estudo revela desigualdades preocupantes na vulnerabilidade dos idosos. Em nível nacional, homens idosos negros (19,3) tiveram quase o dobro de internações em comparação com homens não negros (9,1).
No Mato Grosso do Sul, essa desigualdade também é evidente. A taxa de internações de homens negros (34,1) é mais que o dobro da registrada entre não negros (15,5). Entre as mulheres, a diferença é igualmente significativa: 4,1 para negras e 2,1 para não negras.
“Gostaríamos de destacar que pode haver um viés nos dados, pois estamos trabalhando com informações do Sistema de Informação Hospitalar do SUS para medir a prevalência dessas violências. Isso porque o número de internações depende da oferta de serviços hospitalares na região e da decisão das pessoas de buscar ou não ajuda na rede SUS”, explica o estudo.
Por fim, o Atlas da Violência 2025 reforça que as dificuldades enfrentadas pelos idosos se tornam ainda mais complexas quando consideradas sob a perspectiva racial. “Além disso, o Estatuto da Pessoa Idosa, que serve como referência para a proteção desses direitos, trata a população idosa como um grupo homogêneo, sem levar em conta as diferenças por raça e gênero”, conclui o levantamento.